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    O desejo de percorrer a Serra do Rio do Rastro já era compartilhado pelos quatro primos motociclistas. Foi o encontro nacional dos “Tenerenses”, durante o feriado prolongado, que nos motivou a planejar a viagem e fazer as malas para essa aventura. As audaciosas esposas Eliane na Yamaha XT1200Z Super Ténéré com o Marcelo, e Maura na BMW G650GS com o Teodoro formavam as duplas que percorreram em quatro dias um percurso total de pouco mais de dois mil quilômetros entre Arujá, SP e Urubici, SC.

    Como em qualquer viagem, a fase de preparação e planejamento é muito importante, e demos atenção especial para alguns pontos, como os equipamentos de segurança: nosso capacete, luvas, jaqueta e calça de cordura com proteção em kevlar; revisão da moto: freios, pneus, relação/cardã; tempo previsto de cada trajeto e paradas durante o percurso; além dos equipamentos de foto, áudio e video. Ufa!

 

Explorando a Serra Catarinense

 

  Muitos destinos nos proporcionam uma paisagem maravilhosa e nos deixam felizes por rodar até lá! A Serra Catarinense é um desses lugares onde a moto e a natureza se encontram em perfeita harmonia, deixando lembranças que nos fazem querer pegar a estrada de novo.

1o. dia: Trecho inicial de Arujá, SP, a Balneário Camboriú, SC. 650km.

 

    O principal desafio da saída não foi só encarar a estrada cedinho no escuro, mas enfrentar a chuva que deixava a pilotagem menos solta sobre o asfalto molhado. Outro desafio interessante foi “parear” os intercomunicadores de cada capacete, permitindo que todos pudessem se comunicar entre si, compartilhando até música em alguns momentos de descontração.

    Com as motos abastecidas e carregadas com malas por todos os lados, os pneus calibrados e as coloridas capas impermeáveis protegendo da água que caía, seguimos pelas rodovias Presidente Dutra, Castelo Branco e Rodoanel Mário Covas até entrarmos na Régis Bittencourt. Eram quase sete horas da manhã e a viagem estava só começando quando, enfim, São Pedro resolveu dar uma trégua com a chuva.

    Na Serra do Cafezal, na altura de Juquiá, a BR116 estava em obras, exigindo bastante atenção entre os carros. Próximo a Registro, ao completar os primeiros 200km, paramos para reabastecer. Na estrada, o consumo médio da G650GS fica em torno dos 20km/l, portanto ela contava somente com os quatro litros da reserva. Já a Super Ténéré comporta 23 litros de gasolina em seu reservatório, com um consumo médio de 16km/l, dando ainda muita “folga” ao Marcelo. Ao voltar do “pit stop”, notamos o pneu murcho da G650GS, que foi prontamente remediado pelo borracheiro no posto de serviços,  extraindo um pequeno parafuso cravado na borracha – lembrança das obras na Régis.

Acima, borracheiro “anjo-da-guarda”, primos moto-turistas numa self, e detalhe do botão de acionamento do aquecedor da manopla ao lado do painel da GS.

    Voltamos para a estrada rumo ao sul, percebendo a proximidade com a região de Curitiba ao sentir a temperatura caindo. É incrível como o aquecimento das manoplas na G650GS faz uma grande diferença nessa hora, tornando a pilotagem mais agradável – um item muito bem-vindo e esperado na nova Super Ténéré.

    Depois de rodar cerca de 250km, fizemos nossa segunda parada, para abastecer num posto com bandeira conhecida e fazer uma refeição. O susto foi ver que restava apenas o equivalente a uma latinha de cerveja (isso mesmo: uma latinha de cerveja!!!) no tanque da G650GS, alertando para o cuidado com sua autonomia. É natural, em uma longa viagem, que se acelere um pouco mais na estrada. Alguns fatores como o peso extra da bagagem (além de ter de acompanhar uma Super Ténéré!) contribuem para um consumo mais elevado.

    Uma parte muito bacana de se viajar de moto é ter a oportunidade de se confratenizar com os demais moto-turistas a cada parada. Outro casal em uma BMW R1200GS também seguia viagem para a Serra Catarinense, vindo de São José dos Campos, SP, animados a chegar logo em São Joaquim, SC, ainda no fim do dia. Foram solidários com o pneu furado e se disponibilizaram a ajudar se fosse preciso. Nessas horas, sentir-se parte de uma enorme comunidade sobre duas rodas é maior do que a sua tribo. Máquinas e viajantes abastecidos, era hora de pegar a estrada para a reta final do dia: Balneário Camboriú, SC.

    Já em Santa Catarina, todo o trecho de serra da BR101 proporciona uma pilotagem bem agradável e o torque das máquinas foi mais do que suficiente para vencer cada subida. Logo, a paisagem da serra vai se modificando quando o mar começa a despontar pelas curvas a partir de Barra Velha, SC.

     A BMW G650GS é uma moto com um bom nível de conforto dentro de sua categoria e um banco que acomoda bem piloto e garupa, passando um nível de vibração de seu monocilíndrico que não chega a incomodar. Ainda assim, os duzentos últimos quilômetros do primeiro dia faz a gente lembrar que é de carne e osso, e que a máquina poderia seguir viagem, mas o corpo tem limites.

    Quando chegamos a Balneário Camboriú ainda era cedo, por volta das 15:30h, e a valente Ténéré pedia mais. Então, o Marcelo com a Eliane decidiram seguir o plano de tocar viagem e se juntar aos Tenerenses no destino final: Urubici. A dupla da GS sucumbiu à beleza de Balneário Camboriú e se hospedou no hotel em frente ao mar. Mais tarde nos encontramos com familiares para degustar a culinária local no restaurante à beira mar: peixe. O fim do primeiro dia chegou e nos convidou ao merecido descanso.

 

 

    Depois de recarregar as energias e as malas, e de um ótimo café da manhã, pegamos a estrada logo cedo para Urubici. O objetivo era nos juntarmos aos primos tenerenses para explorar as belezas naturais da região da Serra do Rio do Rastro, e para audaciosamente ir aonde poucas outras “big-trail” já estiveram...

    O percurso de pouco mais de 230km entre Balneário e Urubici é particularmente bonito logo depois de Florianópolis, passando por Palhoça e seguindo pela BR282. A paisagem descortinada a cada curva da reserva Rio das Furnas convida a uma pilotagem mais tranquila para curtir cada momento.

2o. dia: Trecho de Balneário Camboriú a Urubici, SC. 230km.

    Chegamos a Urubici a tempo de acompanhar os tenerenses na trilha de baixo da Cascata do Avencal, digna de um fora de estrada. Fui perceber isso logo depois de seguir o Marcelo saindo literalmente da estrada com a Ténéré e entrar na buraqueira – com mais duas duplas de tenerenses. Era hora de por à prova o título de “big-trail”. Rodamos bem pouco até chegar no fim da linha, estacionar as motos para uma curta caminhada por um caminho de pedras, até chegar na belíssima queda de 100 metros de altura da Cascata do Avencal. Não é preciso dizer que todo esforço feito até aqui foi muito bem recompensado por esse intenso contato com a natureza.

Acima, primos moto-turistas na Cascata do Avencal, com queda de 100 metros. Á esquerda inscrições rupestres no Morro do Avencal.

    A fome apertou e antes de rodarmos para o almoço combinado com os Tenerenses, passamos pela simpática pousada em Urubici onde nos abrigaremos no segundo dia. Logo em seguida, num agradável restaurante típico da região, vimos reunidas mais de cinquenta “big-trails” estacionadas na frente, denunciando um encontro “de peso”. O momento era dividido entre boas estórias e conversas sobre motos – e estávamos vivendo mais uma boa moto-lembrança para o futuro.

    Após uma ótima comida caseira e um bom papo em agradável companhia, era hora de seguir para as inscrições rupestres no Morro do Avencal. A "Máscara do Guardião" é um dos registros interessantes feito há pelo menos 4.000 anos que podemos conferir. A iluminação proporcionada pelo pôr do sol permitia apreciar a encosta daquele morro em um momento único. Montamos nas motos e seguimos para a pousada antes de nos reunirmos para jantar com o grupo.

    Jantar em um grande galpão com os tenerenses onde as mesas dividiam o mesmo espaço com as “big-trails”, expondo as máquinas em meio às conversas foi uma experiência bastante agradável. Foram inúmeras as estórias contadas, as viagens vividas, os sucessos e insucessos compartilhados, e os equipamentos experimentados. O segundo dia fechou com chave de ouro! Contudo, sabíamos que o melhor ainda estava por vir no dia seguinte: a Serra do Rio do Rastro nos aguardava ansiosamente.

 

3o. dia: Serra do Rio do Rastro, SC, e retorno a Curitiba, PR. 500km.

 

  

    O café da manhã reforçado garantia a energia que iríamos precisar para rodar aquele dia cheio de surpresas. E, uma vez mais, temos a oportunidade de compartilhar as experiências vividas em duas rodas com os colegas moto-turistas. Pois bem, baterias recarregadas – nesse caso: dos celulares, câmeras de vídeo, máquina fotográfica e intercomunicadores! Estávamos prontos para pegar a estrada.

    O roteiro já estava traçado: Serra do Rio do Rastro. Foi passar pelo ponto de encontro e pegar a estrada rumo à gelada serra. Por cerca de 80km, passamos por uma paisagem lindíssima a cada curva, testemunhando gelo acumulado nos pontos menos ensolarados da pista. Algo incomum para nós, motocilistas brasileiros. Rodar em um grande grupo dá um prazer diferente, podendo observar o traçado de cada moto, o comportamento do garupa, equipamentos e acessórios dos moto-turistas, curtindo o ritmo e a velocidade do conjunto, além da costumeira cordialidade.

Vista da Serra do Rio do Rastro pelo Mirante

    Depois de rodar por quase uma hora, chegamos ao Mirante da Serra do Rio do Rastro, de onde pode-se observar boa parte das 250 sinuosas curvas distribuídas ao longo de seus oito quilômetros. Não deixa de ser impressionante, e aproveitamos para fotografar o momento antes de encarar a descidona. Vale a pena caminhar até os extremos do Mirante e registrar os diferentes ângulos da estupenda paisagem.

    Prepare-se para encarar a descida! Logo na primeira curva dá para perceber que aquilo não tem igual: desde a inclinação até o ângulo fechado do “cotovelo”. Dá para sentir o peso da moto que precisa reduzir muito a velocidade controlando a distância de quem está na outra faixa, subindo. E vem de tudo! Desde vários colegas moto-turistas, carros, bicicletas e até caminhões abrindo a curva para pegar a tangente. Parecem vir em "câmera lenta", o que garante o tempo da sua manobra e a segurança da via para todos nós.

    Ao longo da descida desfrutamos de uma paisagem estupenda, e o privilégio de estarmos conectados com a natureza - o que é proporcionado ao se conduzir uma moto. Ao mesmo tempo em que percebemos que somos "uma gota d'água, um grão de areia" - aproveitamos para refletir ou esvaziar a mente.

    É interessante como observar a pilotagem dos companheiros de estrada nos ajuda a aprimorar e entender nosso comportamento na moto. A importância em se manter a distância adequada na diagonal entre os veículos ajuda a ver e a ser visto. Na serra, ao copiar o traçado  das motos nas curvas fechadas e acompanhar seu ritmo tranquilo, sente-se a confiança necessária para piloto e garupa curtirem a viagem ao máximo.

    Com a Serra do Rio do Rastro para trás, a mesma SC390 nos levou até Tubarão passando por Lauro Muller, até cruzar a BR101, deixando a beleza de Florianópolis e Bombinhas cada vez mais distante. Uma centena de quilômetros mais e já estávamos passando perto da famosa ilha de São Francisco do Sul - onde há vinte anos os protagonistas desbravaram numa CB450, visitando o catamarã de outro aventureiro: Amyr Klink (mas isto já é uma outra história!). Próximo destino: Curitiba.

 

 

    Considerada um "porto seguro", Curitiba sempre abrigou muito bem seus visitantes, moto-turistas ou não, e não foi diferente nessa vez. Transitar pelo clássico bairro Batel nos permite desvendar a arquitetura dos casarões e perceber como a cidade é bem estruturada. A impressão que passa é de quem recebe bem os motociclistas e simpatizam e respeitam as motos.

    Aventureiros alimentados e motos abastecidas, viseiras limpas e pára-brisas lavados: estávamos prontos para pegar a estrada de volta para casa. Obviamente que não conseguiríamos ir direto rumo a São Paulo sem antes passar pela Serra da Graciosa. A menos de 50km de Curitiba, o Portal da Graciosa fica na saída 59 da BR116, dando acesso à PR410. O asfalto logo dá lugar ao paralelepípedo em alguns trechos - que, molhado, exige atenção redobrada na pilotagem. Ao longo da estradinha, conferimos em alguns de seus mirantes a bela paisagem da região sul.

 

    Já avisados pela polícia rodoviária, rodamos somente 10km estrada da Graciosa adentro até avistar o desmoronamento de terra ocorrido nesse ano, e a reconstrução da via nesse trecho. Registrado o momento, retomamos nossa viagem de volta para casa.

   No caminho de volta, a vontade era dar uma passada na Caverna do Diabo - mas tínhamos que deixar histórias para as próximas aventuras!

   Cerca de dois mil quilômetros rodados em "curtos" quatro dias por agradáveis paisagens em agradável companhia.

   Explorar novos rumos em duas rodas e acumular experiências de viagens são algumas das melhores coisas da vida!

4o. dia: Curitiba, PR, rumo a São Paulo. 400km.


 

Moto-turistas na Serra da Graciosa, trechos raros de paralelepípedos, self na obra de reconstrução e se preparando para voltar para casa.

Cilindradas

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